sábado, 27 de dezembro de 2014

Ponderações e Reticências...

Ponderações e Reticências...

Pedras amontoadas em um canto do quintal.    
Entre elas o capim de baraço entrelaçado, enroscado, tomando conta do lugar...
Houve um momento de paz e aquele lugar iludiu minha mente perplexa pela magia. Um mundo encantado...

-Imaginado? 

Por alguns instantes pude ver minha solidão...
Estado de consciência de minha alma! 
O que trouxe aos meus sentidos uma alegria. 
Pude sentir a transpiração em meu semblante...

-Depois?

Perguntou-me o senhor de minha mente.

Pensei na loucura...

A mão esqueceu a racionalidade e obedecendo a um comando etéreo, manteve-se firme no labor da escrita.
Aquilo que vinha seriam lembranças?   Seriam dúvidas?   
Seriam de outras vidas estas indagações?
Uma certeza absurda me vem alucinar, responsabilizando minha conduta
deixando a mão ocupada a registrar as cifras de uma linguagem deveras depressiva e melancólica.   

Eu continuo... 

Sou aquele baraço de capim que se espalha, 
entrando nos cantos, 
buscando cada côncavo...

(Uma imagem figurada no reflexo que a retina guarde na memória).

Vejo reticências em todas as frases já escritas, enquanto, 
na mente as reticências anunciam o paradoxo do próprio ato.

-Escrever por quê?

-Quem poderia afirmar alguma coisa?

Mas a alegria? Aquela que constato de forma intensa. 
Em estado consciente.
Seria mesmo, apenas um fenômeno químico
produzindo fluídos e alterando a sensibilidade da mente?

Percebo que isto não importa. Percebo que a virtude 
de meus atos, trazem mais perguntas que respostas 
e me responsabiliza, dando mais visão dentro deste 
quarto escuro que parece ser a vida. Então é preciso superação. 
Não podemos ser permanentes porque seriamos o nada, 
algo que não somos.   

A reticência determina esta situação de forma clara 
quando interrompe, mas não elimina as possibilidades.   
Esta sabedoria se revela como o baraço de capim, 
como o sorriso, como a brisa ou canto de um pássaro...

-Então descobri a razão que me leva a escrever? 

-Descobri quem sou eu?           

Uma pergunta insólita que por si não questiona 
sua própria natureza...
Ressalta sim, a importância dela.

Talvez eu seja baraço de capim ou apenas uma reticência...

Uma ponderação sobre aquilo que tento traduzir.

Então considerei minha verdade!
Sou naturalmente um ponderador.

- E então? 

Continua a pergunta por que um operário aposentado escreve.
E se mantém feliz escrevendo depois de cada reticência...

No final me resta conjugar o verbo...

Eu pondero
Tu ponderas
Ele ou Ela pondera
Nós ponderamos
Vós Ponderais
Eles ou Elas ponderam

Gerúndio, ponderando;
Particípio passado, ponderado.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

SUCO DA LARANJA


Copo na mão, aperto na alma!
Mãos trêmulas que sangram
A miséria demente da solidão
Onde habita nosso medo...

Copo na mão!

Veia que dilata na perícia insana.

Gole doce, nosso amargor!
Veia que dilata,
Bebida consumida
Numa profunda lascívia
Que masturba a mente.
Bebida engolida, destilada...
Prostituindo os pensamentos!

Copo na mão que treme deixando pingos marcados no chão...

(Sei que os limões estão maduros, mas quero beber o suco da laranja.)

CONSTATAÇÃO


Nordeste seco, povo, cruz e fé.

Mãos enrugadas com unhas grandes e
sujas, rosário entre os dedos.

-Uma lamentação!

Canção feita na varanda,
viola e sanfona imitando o vento a bater nos cascalhos do Chapadão.
Na parede o santo de papel assiste a tudo, sem nada dizer!
Apenas seu distante sorriso sugere a presença de deus.

Árida terra, inóspita...
Nordeste seco, povo, cruz e fé.

Pecado do pedófilo, incesto no riacho de areia...
Menina bolinada, mal tratada, desolada, analfabeta.
Desconjurada como filha do diabo!
E a menina paga sua penitência.
Pau de arara ou no bumba meu boi,
maxixe, forró, cana, farinha, a Caatinga...

Pegadas na areia solta,
sinais da demanda migrante que vem para o sul.
São todos retirantes, navegantes do mar árido e inóspito do sertão.

Seco Nordeste.
Povo, reza e fé...

- Buscam o quê?
Água e Jesus!

-Como posso ter sede vivendo aqui no sul?
Ouço a calha roncar com o aguaceiro que a tempestade de verão trouxe.
Aqui é sempre assim!
As pegadas na lama coberta pela geada do mês de Agosto, dissolvem com os primeiros raios do Sol...

-Nossa reza egoísta. 
Pecado do sul.

Deveríamos agradecer pela AIDS, pela enchente.
Até a pneumonia deveria ter uma canção sacra.
Maldades daqui não diferem das de lá!
Somos crédulos, somos pedófilos e doutores, somos ignorantes, todos analfabetos na arte da compaixão.

(Em nossas paredes os santinhos de papel permanecem...)

O menino de pele alva suga o seio farto, alimentando o vazio...
Nossa miséria deprimente, carência de Deus.
A noite vem com seu frescor e ouço o violão imitando o vento.
Peço minha graça contando as estrelas em todas as noites só solidão.

Árida terra farta! Povo...


Nossa reza, cruz e fé.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A ÁRVORE

Erguida imponente,
Pilar de madeira viva!
Exalando perfume e sombreando cabeças...

Ramos e parasitas que te adornam
Escondem um pardal que voa e volta!
Árvore gigante vestida de folhas...

Ingrato homem que te tomba!
"Coitada" é cortada e vira matiz pintada na moldura
Daquele que segura um machado na mão...

Uma árvore caída no chão e muitas casas
Construídas para a civilização!
Assim, na história de era uma vez...

Erguida imponente!
Uma única árvore ainda vive!
Esperando um novo pensar nas cabeças!
"-Quem sabe uma nova civilização!"



domingo, 21 de julho de 2013

Os gomos da bergamota

No começo...
Assim ponderei!

Os gomos da bergamota

Tudo que sinto traduz minha ignorância. Posta em minha frente como reflexo no espelho, nada parece traduzir esta sensação, nada parece trazer-me a paz. Além disso, fico tentando justificar aquilo que deveras sinto como se houvesse alguma compreensão natural. Resumidamente, sinto tudo como um resgate da consciência infinita. Sei que não somos apenas carne, tão somente busco a divindade dentro do meu ser. Como todo bom pensador também estou á procura do eu. Aquele que pergunta. Aquele que chora. Aquele que ri. Aquele que beija. Aquele que afaga. Aquele que crê. Aquele que sente... Aquele que pergunta sobre o que escrever.

“Pude ouvir o som que vinha com o vento, ele acariciava meus ouvidos, dava aos meus sentidos um prazer indescritível...”

-Sem compreensão. E continua...

“Pelo vidro da janela pude espreitar a aurora colorindo o céu, dando aos que para ela olhavam a alegria de sentir os primeiros raios de Sol... Uma radiação contagiante, aquecendo o corpo e a alma...”

-Meu pecado!

“No pomar o arvoredo ainda úmido pelo sereno, escondia mistérios que os sentidos não alcançavam, tão pouco, ousava eu penetra-los.”

-Medo!

O destino na sua trajetória buscou meu caminho, foi como um conto de fadas aquela revelação e não pude conter nem um dos acontecimentos, pois, eles determinaram a visão daquilo que sou em essência, indubitavelmente, nada havia para ser feito, somente vivenciar cada momento e aprender. Talvez a única certeza que havia, fosse a de que somente o conhecimento pudesse resgatar as minhas lembranças. Era o que pensava.

Todos os dias eu chegava mais perto. Percebia, ela estava esperando a hora em que eu a tocasse. E não demorou a tudo acontecer, meu braço foi puxado quando minha mão tocou o véu, aquele rosto misterioso sorriu... Senti um prazer incomum! A voz que entrou em meus ouvidos trouxe calma. Mesmo quando as nuvens cobriram o Sol formando figuras escuras, medonhas formas hipnóticas mergulhando no cérebro, refugio daqueles códigos e enigmas, há muito perdidos. Foi quando a mão, repentinamente, começou a decodificar cada sinal, cada momento...
A mulher estava nua. Eu toquei cada parte dela e senti todas as sensações que ela sentia, pude dormir e sonhar seus sonhos, enquanto, ao longe o sino tocava clamando pelos seus fiéis. Percebi então que a solidão caminhava junto com todos, e, naquele instante somente eu rezava, somente eu ouvia a voz de Deus, ninguém notou quando as presenças do Sol, da Lua, das árvores e da água se manifestaram permitindo que Deus anda-se em meio das mulheres e dos homens. Foi quando minhas lágrimas mataram minha sede e aos poucos os escombros viraram relva florida e macia...

Foi quando lembrei uma oração que mamãe havia me ensinado, fiquei ali sentado rezando, enquanto, os monstros me cercavam causando dor, materializando cristais dentro de meu corpo. Fechei os olhos e passados o movimento da ampulheta, senti o cheiro das flores, uma brisa suave resvalou em minha pele que se arrepiou, pétalas de rosas cobriram meu corpo nu. Crianças brincavam de roda e convidavam-me para brincar...  Olhei para o lado e lá estava... “- era uma presença sem adjetivos...” Diante todos beijei aqueles pés delicados e sua mão me conduziu. Tudo se revelou...
Somente uma pergunta havia!  

Diante de uma porta eu parei por alguns instantes e ficou claro que era preciso coragem para entrar! O medo, as dúvidas, a solidão seriam formas para encorajar a busca da luz e ao mesmo tempo motivo para ficar inerte diante da vida, isto eu sabia, pois já havia lido isto nos livros que me rodeavam... Parado diante da porta agora estava... 
-Mas os olhos estavam abertos! 

Foi nas ultimas horas do dia. Ainda faltava descobrir qual igreja tocava o sino e o que escondia aquele prédio antigo de arquitetura simples. Ao abrir a porta uma senhora veio abraçar-me, ela agora estava sem seu habitual capuz, depois, conduziu-me por um corredor e em cada porta nós paramos... Ela me apresentou a todos que lá estavam... Eu reconhecia cada um deles presentes naquele lugar familiar!
Ela então disse com voz serena...
-Tenha coragem!

Não era mais real aquilo tudo. Pensei!
Lembrei minha infância. De quando voltava da escola e na sombra do arvoredo me empanturrava de tanto comer bergamotas. Das estórias de meu avo, das coisas da vida que teimamos em dizer ser nossa sapiência. Esta nossa saudade! E assim cada gomo transformou-se... “- Poesia!” No mesmo instante percebi que ainda haviam muitas reticências desenhadas em minha mente e seria necessário as ponderações que talvez em um futuro não distante poderão elucidar minha ignorância.

Pinga pinga
Pingo d’água
Pinga sem parar
Um mistério a desvendar... 


“Vestígios inexplicáveis onde as ponderações lúcidas, técnicas ou científicas, não elucidam. Somente o silêncio é que produz eco, sinos surreais, entoando mantras sagrados e conhecidos que fingimos não entender. Ignoramos nosso coração e decoramos canções. Quando somente bastava olhar para o lado, bastava apenas dizer...”


Seios


Fartos mamilos que avolumam
Dois formosos montes no decote,
Deixando o amor sem consorte
Nos olhos desejosos que reclamam!

Nem todos podem ser iguais a este,
Tão pouco, os versos que explicam
Podem dizer da beleza que ostentam;
Somente o homem sabe de seu deleite...

Mamas róseas que balançam...
No movimento único... Um instante!
Quando as mães amamentam,

O suco vindo do leite,
Floresce o amor dos que desejam!
- E dos seios, vem tudo que se sente...

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Nada mais...

- Vejo claro na parede um retrato colorido.
Mas percebo que ninguém mais esta olhando o retrato.
Estamos sozinhos... E eu te desejo!

- Quero mais! Quero estar dentro do retrato!
Quero sentar na cadeira e ti ver nua... ti ver nua!
Apenas olhar teus olhos e teus seios!

- Quero mais! Quero tocar-te!
Quero segurar teu seio direito e beijar tua boca!
Apenas sentir novamente aquilo que já senti quando tudo começou...

Sou apenas mais um insano que imagina um desejo...
- Mas como conter estes devaneios?
Delírio que cavalga os tempos... pois já vivemos isto!

(Havia naquele lugar apenas eu e você!)

Sei que ontem eu bebi! Mas lucidez para quê?
Nada mais interessa! Apenas quero continuar iludido...
Quero apenas continuar vendo o retrato... Nosso retrato na parede vazia!
- Nada mais!


O anoitecer em frente de minha casa...