Nordeste seco, povo, cruz e fé.
Mãos enrugadas com unhas grandes e
sujas, rosário entre os dedos.
-Uma lamentação!
Canção feita na varanda,
viola e sanfona imitando o vento a bater nos cascalhos do Chapadão.
viola e sanfona imitando o vento a bater nos cascalhos do Chapadão.
Na parede o santo de papel assiste a tudo, sem nada dizer!
Apenas seu distante sorriso sugere a presença de deus.
Árida terra, inóspita...
Nordeste seco, povo, cruz e fé.
Pecado do pedófilo, incesto no riacho de areia...
Menina bolinada, mal tratada, desolada, analfabeta.
Desconjurada como filha do diabo!
E a menina paga sua penitência.
Pau de arara ou no bumba meu boi,
maxixe, forró, cana, farinha, a Caatinga...
maxixe, forró, cana, farinha, a Caatinga...
Pegadas na areia solta,
sinais da demanda migrante que vem para o sul.
sinais da demanda migrante que vem para o sul.
São todos retirantes, navegantes do mar árido e inóspito do sertão.
Seco Nordeste.
Povo, reza e fé...
- Buscam o quê?
Água e Jesus!
-Como posso ter sede vivendo aqui no sul?
Ouço a calha roncar com o aguaceiro que a tempestade de verão trouxe.
Aqui é sempre assim!
As pegadas na lama coberta pela geada do mês de Agosto, dissolvem com os
primeiros raios do Sol...
-Nossa reza egoísta.
Pecado do sul.
Deveríamos agradecer pela AIDS, pela enchente.
Até a pneumonia deveria ter uma canção sacra.
Maldades daqui não diferem das de lá!
Somos crédulos, somos pedófilos e doutores, somos ignorantes, todos analfabetos na arte
da compaixão.
(Em nossas paredes os santinhos de papel permanecem...)
O menino de pele alva suga o seio farto, alimentando o vazio...
Nossa miséria deprimente, carência de Deus.
A noite vem com seu frescor e ouço o violão imitando o vento.
Peço minha graça contando as estrelas em todas as noites só solidão.
Árida terra farta! Povo...
Nossa reza, cruz e fé.
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