No começo...
Assim
ponderei!
Os
gomos da bergamota
Tudo que sinto traduz minha ignorância. Posta em minha
frente como reflexo no espelho, nada parece traduzir esta sensação, nada parece
trazer-me a paz. Além disso, fico tentando justificar aquilo que deveras sinto
como se houvesse alguma compreensão natural. Resumidamente, sinto tudo como um
resgate da consciência infinita. Sei que não somos apenas carne, tão somente
busco a divindade dentro do meu ser. Como todo bom pensador também estou á
procura do eu. Aquele que pergunta. Aquele que chora. Aquele que ri. Aquele que
beija. Aquele que afaga. Aquele que crê. Aquele que sente... Aquele que
pergunta sobre o que escrever.
“Pude ouvir o som que vinha com o vento, ele
acariciava meus ouvidos, dava aos meus sentidos um prazer indescritível...”
-Sem compreensão. E continua...
“Pelo vidro da janela pude espreitar a aurora
colorindo o céu, dando aos que para ela olhavam a alegria de sentir os
primeiros raios de Sol... Uma radiação contagiante, aquecendo o corpo e a
alma...”
-Meu pecado!
“No pomar o arvoredo ainda úmido pelo sereno, escondia
mistérios que os sentidos não alcançavam, tão pouco, ousava eu penetra-los.”
-Medo!
O destino na sua trajetória buscou meu caminho, foi
como um conto de fadas aquela revelação e não pude conter nem um dos
acontecimentos, pois, eles determinaram a visão daquilo que sou em essência,
indubitavelmente, nada havia para ser feito, somente vivenciar cada momento e
aprender. Talvez a única certeza que havia, fosse a de que somente o
conhecimento pudesse resgatar as minhas lembranças. Era o que pensava.
Todos os dias eu chegava mais perto. Percebia, ela
estava esperando a hora em que eu a tocasse. E não demorou a tudo acontecer,
meu braço foi puxado quando minha mão tocou o véu, aquele rosto misterioso
sorriu... Senti um prazer incomum! A voz que entrou em meus ouvidos trouxe
calma. Mesmo quando as nuvens cobriram o Sol formando figuras escuras, medonhas
formas hipnóticas mergulhando no cérebro, refugio daqueles códigos e enigmas,
há muito perdidos. Foi quando a mão, repentinamente, começou a decodificar cada
sinal, cada momento...
A mulher estava nua. Eu toquei cada parte dela e senti
todas as sensações que ela sentia, pude dormir e sonhar seus sonhos, enquanto,
ao longe o sino tocava clamando pelos seus fiéis. Percebi então que a solidão
caminhava junto com todos, e, naquele instante somente eu rezava, somente eu
ouvia a voz de Deus, ninguém notou quando as presenças do Sol, da Lua, das
árvores e da água se manifestaram permitindo que Deus anda-se em meio das
mulheres e dos homens. Foi quando minhas lágrimas mataram minha sede e aos
poucos os escombros viraram relva florida e macia...
Foi quando lembrei uma oração que mamãe havia me
ensinado, fiquei ali sentado rezando, enquanto, os monstros me cercavam
causando dor, materializando cristais dentro de meu corpo. Fechei os olhos e
passados o movimento da ampulheta, senti o cheiro das flores, uma brisa suave resvalou
em minha pele que se arrepiou, pétalas de rosas cobriram meu corpo nu. Crianças
brincavam de roda e convidavam-me para brincar... Olhei para o lado e lá
estava... “- era uma presença sem adjetivos...” Diante todos beijei aqueles pés
delicados e sua mão me conduziu. Tudo se revelou...
Somente uma pergunta havia!
Diante de uma porta eu parei por alguns instantes e
ficou claro que era preciso coragem para entrar! O medo, as dúvidas, a solidão seriam formas para
encorajar a busca da luz e ao mesmo tempo motivo para ficar inerte diante da
vida, isto eu sabia, pois já havia lido isto nos livros que me rodeavam... Parado diante da porta agora estava...
-Mas os olhos estavam abertos!
Foi nas ultimas horas do dia. Ainda faltava descobrir
qual igreja tocava o sino e o que escondia aquele prédio antigo de arquitetura
simples. Ao abrir a porta uma senhora veio abraçar-me, ela agora estava sem seu
habitual capuz, depois, conduziu-me por um corredor e em cada porta nós
paramos... Ela me apresentou a todos que lá estavam... Eu reconhecia cada um
deles presentes naquele lugar familiar!
Ela então disse com voz serena...
-Tenha coragem!
Não era mais real aquilo tudo. Pensei!
Lembrei minha infância. De quando voltava da escola e
na sombra do arvoredo me empanturrava de tanto comer bergamotas. Das estórias
de meu avo, das coisas da vida que teimamos em dizer ser nossa sapiência. Esta
nossa saudade! E assim cada gomo transformou-se... “- Poesia!” No mesmo instante percebi que ainda haviam muitas
reticências desenhadas em minha mente e seria necessário as ponderações que
talvez em um futuro não distante poderão elucidar minha ignorância.
Pinga pinga
Pingo d’água
Pinga sem parar
Um mistério a desvendar... “Vestígios inexplicáveis onde as ponderações lúcidas, técnicas ou científicas, não elucidam. Somente o silêncio é que produz eco, sinos surreais, entoando mantras sagrados e conhecidos que fingimos não entender. Ignoramos nosso coração e decoramos canções. Quando somente bastava olhar para o lado, bastava apenas dizer...”